Como a Mídia Afeta as Mulheres

Como a mídia afeta as mulheres (matando-nos aos poucos)

As vezes as pessoas me falam: “você tem falado sobre isso há 40 anos. As coisas melhoraram?” E infelizmente tenho a dizer é que as coisas pioraram.

Anúncios vendem mais que produtos: eles vendem valores, imagens… vendem conceito de amor e sexualidade, de sucesso e, talvez o mais importante, conceitos de “normalidade”. Consequentemente, eles nos dizem quem somos e quem devemos ser.

Bom, e o que os anúncios nos dizem sobre as mulheres? Eles dizem, como sempre disseram, que o mais importante é como somos vistos. A primeira coisa que os anunciantes fazem é nos cercar com uma imagem da beleza feminina ideal.

As mulheres aprendem desde pequenas que devem gastar uma quantidade enorme de tempo, energia, e acima de tudo dinheiro, esforçando-se para alcançar esta imagem e sentem vergonha e culpa quando falham. E a falha é inevitável, pois o ideal é baseado na absoluta impecabilidade. Ela nunca teve linhas faciais ou rugas, certamente não há cicatrizes ou manchas. De fato, ela não tem poros. E o aspecto mais importante é que esta impecabilidade é impossível de se alcançar. Ninguém é assim, inclusive ela. E esta é a verdade, ninguém é assim.

Cindy Crawford sem e com maquiagem

Cindy Crawford sem e com maquiagem

A supermodelo Cindy Crawford disse uma vez: “eu gostaria de parecer a Cindy Crawford”. Ela não é nem poderia ser, pois esta é uma imagem criada durante anos de maquiagens e cosméticos, que hoje são facilmente feitos por retoque digital. Keira Knightley recebe um busto maior. Jessica Alba feita menor. Kelly Clarkson… bem, esta é interessante, pois diz “emagreça do seu jeito” mas ela de fato emagreceu via Photoshop.

Kelly Clarkson sem e com Photoshop

Kelly Clarkson sem e com Photoshop

Você praticamente nunca viu a foto de uma mulher considerada bonita que não tenha sido retocada digitalmente. Todos nós crescemos em uma cultura onde o corpo das mulheres são constantemente transformados em objetos. Aqui ela se torna uma garrafa de cerveja, aqui se torna parte de um videogame e está em todo lugar, em todo tipo de anúncios, o corpo da mulher é transformado em coisas, em objetos. Agora, é claro que isso afeta a autoestima feminina. Isso também faz algo mais insidioso: cria um clima em que se difunde a violência contra a mulher.

Não estou dizendo que um anúncio como este causa diretamente a violência, não é tão simples. Mas tornar um ser humano em um objeto é quase sempre o primeiro passo que se dá para justificar a violência contra ele. Vemos isto com racismo, vemos isto na homofobia, vemos isso com o terrorismo. É sempre o mesmo processo, a pessoa é desumanizada e então a violência se torna inevitável. E este passo já foi e é constantemente dado com a mulher. O corpo da mulher é desmembrado em anúncios, cortado em pedaços, apenas uma parte do corpo é focada, que obviamente é a coisa mais desumanizante que se pode fazer a alguém.

Em todos os lugares, vemos o corpo da mulher transformado em coisas, e muitas vezes, apenas parte de alguma coisa. E as garotas hoje estão captando esta mensagem tão jovens… que elas precisam ser impossivelmente lindas, quentes, sexy e extremamente magras, e também captam a mensagem que vão falhar, que não há meios para se atingir isso. As garotas costumam se sentir bem aos oito, nove, dez anos, mas quando chegam a adolescência, é como se atingissem uma parede. E certamente, parte desta parede se dá por essa ênfase à perfeição física.

Agora veja, nós temos epidêmicas disfunções alimentares em nosso país e também ao redor do mundo. Eu venho falando sobre isso há algum tempo e penso que as modelos não podem ficar mais magras, mas elas ficam cada vez mais e mais magras. Ana Carolina Reston morreu há um ano de anorexia pesando cerca de 40 quilos. E na época ela ainda desfilava. Então, as modelos realmente não podem ficar mais magras. E aí o Photoshop veio ao resgate.

Entretanto, existem exceções. Kate Winslet fez uma declaração sobre a recusa em permitir que Hollywood ditasse o seu peso. Quando a revista GQ publicou uma fotografia de Winslet, que foi retocada para fazê-la parecer drasticamente mais magra, ela afirmou que a alteração foi feita sem o seu consentimento. E ela disse: Eu não sou assim e, mais importante, eu não quero parecer assim. Posso dizer que eles reduziram o tamanho de minhas pernas por 1/3.

Então, o que podemos fazer sobre tudo isso? Bem, o primeiro passo é ficarmos em alerta e prestarmos atenção e reconhecer que isso afeta a todos nós. Estamos falando de problemas na saúde pública. A obsessão por magreza é um problema de saúde pública. A tirania de uma imagem ideal de beleza, a violência contra a mulher, são todos problemas de saúde pública que afetam a todos nós. E estes problemas apenas podem ser resolvidos transformando o ambiente.

– Jean Kilbourne

Nota: O texto transcrito do vídeo eu peguei no site VidaMinimalista